quinta-feira, 24 de março de 2011

O Título deste Post Está em Greve, logo Contentem-se com Este Grande Aqui

Gostaria de dedicar este post a alguém, mas como nenhum nome me veio à cabeça, desisti. Fica registrada aí a intenção.

Cá estou. Aí estás. Escrevo. Lês. Falo. Ouves. Penso. Entendes.
No instante em que cravo a tinta meus delírios neste papel, meu ato nada significa para ti. No instante em que interpretas meus gemidos, teu ato nada significa para mim.
E... Que ligação... Que intimidade nós temos!!! Tu, nos porões de minha mente, eu, com minhas ideias infectando as tuas...
E, talvez, nem nos conheçamos!
Oh! Meu alocutário desconhecido, meu destinatário anônimo, meu ouvinte icógnito, meu leitor embriagado (!?), não te espantas essa contradição?
Tão distantes e tão juntos, tão desconhecidos e tão íntimos, tão diferentes, mas unidos por um mero papel!

Agora, cortando essa baboseira metalinguística, vamos ao que interessa: mulheres. pensamentos edificantes.

Sempre achei que havia algo honroso e digno em ter calos, ou mesmo bolhas. Eles diziam que, embora eu ainda não manejasse uma enxada perfeitamente, ao menos me esforçava até meus limites "epidermísticos".
O mesmo digo dos hematomas, cortes e arranhões. Ter uma coleção deles pelo corpo queria dizer: "Uhuu! Não sou um otário que fica o dia inteiro no pc! Eu sei aproveitar a vida!"
O grande fetiche então era uma mesa de estudos desorganizada - dava a impressão de que eu estava estudando pra caramba.

É como um filme do Rocky Balboa: a graça não está na luta final (e, diga-se de passagem, muito menos nas intrigas familiares, dificuldades financeiras ou saudosismos de terceira idade que ocupam 90% do filme). O legal é ver o treinamento: o cara bebendo seis ovos crus no café da manhã, batendo em carcaças em um frigorífico, acordando de madrugada para correr, subindo escadas para, no final, dar um saltinho de alegria. Isso é massa. Não o objetivo, mas a luta para alcançá-lo. Não o destino, mas o caminho tortuoso trilhado até lá.

Antes que esse post fique muito piegas e meu sobrenome seja Cury ("o caminho tortuoso, por tépidos desertos e pélagos infindáveis da mente humana..." ou coisa parecida), é melhor terminar logo por aqui.

Ou por aqui.

Ah!, lembrei de uma piada que eu fiz: "O que é vermelho e tem pupilas dilatadas?"

(Pausa para suspense)

(Pausa para eu lembrar a resposta [êêê idade])

Um tomate viciado em LSD!!! AhuHAuhAuAHuAHuHAuHAuAHuAHuAHuAHuAHuHAuAHUAH

Ou por aqui.



("Is the... eye of the Tiger, is the thrill of the fight...")

domingo, 30 de janeiro de 2011

O Náufrago e O Urubu

O Náufrago
Na linha bruxuleante do horizonte, que dançava ao som do calor, uma figura dava seus últimos passos sob o sol escaldante. Aquela estrela que crianças gostam de pintar com um largo sorriso a iluminar flores e borboletas agora cozinhava impiedosamente os miolos do infeliz. Cada gota de suor evaporava antes mesmo de poder dizer "Ei, eu saí das suas glândulas sudoríparas para refrescá-lo".
Costumava ser um homem, mas agora mais se assemelhava a um morto vivo, imagem que os farrapos que antes eram suas roupas reforçavam. Era um monte de trapos sujos e velhos que, com dificuldade, respirava.
No limite de seus esforços, deixou-se cair na areia tórrida e, abrindo mão de suas últimas energias, arrastou-se até a miragem mais próxima, uma solitária árvore naquele mar de areia.
"Meu subconsciente é um sacana", pensou, já no abrigo. "Eu podia ter uma alucinação com uma cadeira reclinável à beira de uma piscina, sob um guarda sol colorido e garotas de biquíni me servindo limonada. Várias garotas de biquíni me servindo limonada. Mas tudo o que ele me dá é essa pequena árvore de sombra parca e sem fruto algum. Como eu me amo!". Verbalizando suas picuinhas com a Providência, gritou para o alto:

- Porque isso foi acontecer comigo? Porque justo eu?
- Tem gente que diz que foi culpa do destino, que já estava tudo programado. Outros responsabilizam a Deus, por deixar, em sua soberania, que coisas ruins aconteçam. E tem também aqueles não crêem em nada e preferem acreditar que o acaso ditou que estivessem aí onde você está. Ninguém se preocupa com o porque da vida, mas todo mundo tem sua teoria sobre porque estão morrendo. Acredite. Eu tenho muito experiência com gente morrendo.

O moribundo, deitado de costas na areia, levantou os olhos e virou o pescoço para ver, em um galho rebeldemente afastado da copa, retorcido como sonhos de um bêbado, uma ave negra e careca. Falando alto com o seu subconsciente, reclamou:

- Garotas de biquíni... eu pedi garotas de biquíni! Não urubus falantes...


* * *

O Urubu
- Existe alguma chance de que você vá me trazer uma limonada? – perguntou o náufrago de terra firme.

A ave apenas inclinou a cabeça para um dos lados, fitando-o.

- Creio que isso seja um não.

O urubu, mesmo não sendo um anu, anuiu. Depois, com um tom de quem puxa conversa informalmente na festa de fim de ano do escritório (que vestido lindo, onde você comprou?), perguntou:

- O que o traz aqui?
- Nada que lhe interesse – respondeu o homem, olhando para os lados, parecendo procurar algo.
- Ah... essas coisas sempre me interessam... – continuou o saprófago – não tenho muito com quem conversar por aqui.

Os dois se olharam e a comida viu que o comedor realmente parecia interessando.

- Olha, vou ser sincero contigo – começou o infeliz – mamãe me ensinou a não conversar com alucinações. Não tenho porque perder tempo batendo papo comigo mesmo.
- Hum. Se você acha que eu sou uma alucinação – o urubu inclinou-se para ele, falando em um tom misterioso de quem conta, em um funeral, que o suicídio foi, na verdade, assassinato – então você já está morto a mais tempo do que imagina...


* * *

Sobre a realidade I
“Você acha que eu sou uma alucinação porque falo e, como vocês humanos adoram saber, urubus não falam. Logo, aquilo que não é normal só pode ser fruto da sua mente desidratada e com insolação. Você pensaria o mesmo, pelo mesmo motivo, se visse uma vaca voando, ou o Rubinho Barrichello vencendo uma corrida.

“Durante a sua vida, você aprende que certas coisas são normais e outras, não. Você aprende que urubus não falam, que vacas não voam. Isso faz parte da sua concepção de mundo, e qualquer coisa fora dessa é considerada irracional e, portanto, alucinação.

“Ora, se o método usado para classificar um fato como ‘estranho’ ou ‘normal’ é compará-lo com as experiências já vividas, ou seja, outros fatos, só que mais antigos, o que garante que esses outros fatos passados tenham sido classificado corretamente? Afinal, não há outros fatos antes desses para comparar.

“Se, ao nascer, você convivesse com urubus falantes, você não me consideraria uma alucinação. Quando não há experiências passadas, nada é estranho.

“Mas aí está você. Nunca viu um urubu falar e por isso me acha errado. O erro, entretanto, está em você acreditar que sua ínfima experiência de vida pode lhe dar alguma segurança de discernimento entre a verdade e a loucura. 

"E o erro não se restringe a este momento, ou apenas a você. Todos os humanos estão mortos, pois nunca estranharam a vida.

"Se você acha irreal aquilo com que não conviveu na realidade, o que dizer da própria realidade? Se eu sou uma alucinação porque você, na sua existência, nunca viu um urubu falar, o que dizer da própria existência? Não seria ela a mais estranha das coisas?

"Um homem, ao acordar misteriosamente em uma ilha, certamente estranharia sua situação. Ele não sabe como foi parar ali, e muito menos qual deve ser sua atitude. Se descobre então que, na mesma ilha, reside uma tribo de selvagens, não há dúvida que os trataria com receio e evitaria adquirir seus costumes.

"Ora, vocês, humanos, acordam na ilha da existência sem saber como chegaram ali. Entretanto, ao invés de estranhar a vida, de considerar a realidade o mais misterioso dos milagres, simplesmente unem-se à sociedade e adotam seus costumes selvagens sem questionamento. 

"Se você não acha a vida algo diferente, estranho, se sair da não-existência para a existência não tem nenhum significado para você, então continua morto. E eu posso dizer que nunca encontrei um humano vivo."


* * *

Sobre a realidade II
"Quando vocês, mortos, não questionam a realidade, tornam-se facilmente iludidos. Não percebem que o universo é uma grande incógnita.

"Ao sonhar, você não sabe que aquilo que está vendo e sentindo é apenas uma criação da sua cabeça. Tudo parece real, e você acredita naquilo. Assim também, nossa mente é enganada em um truque de mágica bem sucedido: Nossos sentidos nos fazem crer em algo que nossa razão diz ser impossível.

"Por isso, os sentidos, que são suas portas para o conhecimento da realidade, são dúbios, e, assim, a própria realidade é dúbia.

"Como saber se a realidade não é apenas um sonho? Ou um truque de mágica? Sei que isso parece uma letra do Patati/Patatá, mas é porque a existência é uma piada mesmo.

"Você não pode confiar em uma pessoa apenas porque ela diz "Pode confiar em mim, eu não minto", afinal, essa afirmação pode ser uma mentira. Da mesma forma, você não pode provar a existência da realidade pois todos os seus argumentos estarão pautados na realidade. É um raciocínio circular.

"Claro que, se aquilo que vemos, ouvimos, sentimos, etc, é apenas uma ilusão, deve haver uma realidade superior à nossa da qual desconhecemos. Assim como, em um sonho, o sorvete que comemos é ilusão, mas o travesseiro em que dormimos pertence à uma realidade superior. Você pode chamar a realidade superior de "matrix", "deus" (seja qual for ele), "paraíso" ou "Jonas Brothers". A não ser que você seja agnóstico. Aí você não chama de nada.

"Porém, mesmo que conseguíssemos entrar na realidade superior, essa estaria submetida ao mesmo problema que a inferior: tudo que usássemos para provar sua existência concreta dependeria da sua existência concreta - o raciocínio circular.

"Desse modo, nunca saberemos qual realidade é a verdadeira. Se depender da certeza, haverá uma cadeia infinita de realidades dúbias. Por isso eu acho uma perda de tempo procurar saber se nossa existência é uma ilusão e apenas existo, sem medo de me iludir.

"Concluindo, porque o texto está ficando longo e as pessoas não gostam de ler textos longos, muito menos os filosóficos, está aí: 1 - Estranho e concreto são termos relativos e 2 - A realidade em si é estranha.


* * *

Recreio
- Puts - o homem desabafou - de todos os urubus maníacos falantes que existem, ou melhor, não existem, eu tinha que ficar logo com um que lesse Descartes?

O urubu espirrou, e seu espirro soou como "Berkeley".

- Agora que já está decidido que você não tem um motivo racional para não conversar comigo... - Continuou a ave - o que o traz aqui? 
- Esqueça! Mesmo com toda essa baboseira solipsista e racionalista, nós não temos intimidade para esse tipo de conversa. Não tem lógica eu gastar meus últimos minutos relembrando mágoas. 
- Credo! - o pássaro o olhou com uma expressão de repulsa, algo bem incomum para um urubu - Você não tem pena dos leitores?
 - Hu?
 - Você acabou de listar dois conceitos abstratos. Isso significa mais dois tópicos enormes!

Já sabendo da dissertação que o aguardava, o homem deixou sua cabeça cair na areia, com uma expressão de tédio semelhante à que você deve estar fazendo agora, esperando que o vindouro batimento das botas o livrasse daquela aula de filosofia, assim como muitos estudantes hoje em dia.


* * *

Sobre a intimidade
"A intimidade é deixar-se exposto ao outro, o que é algo extremamente perigoso por motivos óbvios. Entretanto, faz parte da natureza humana ter companheiros com quem compartilhar suas privacidades. A escolha desses companheiros, portanto, parece ser o nosso motivo de impasse neste momento. Porque revelar suas intimidades a mim, que o conheço a tão pouco tempo?
"Ora, o motivo não podia ser mais claro. Com que ser, neste planeta, você poderia ter mais intimidade do que com aquele que o há de comer? Sim, eu, o animal que devorará suas entranhas, serei o mais íntimo dos seus companheiros. Não há relacionamento neste mundo mais privado, mais íntimo e profundo do que o nosso - pois seremos um, e você se perderá dentro de mim.

"Além disso, um conhecido meu, o velho Brás Cubas, já dizia que, na morte, não há motivo para mentir. Por isso o relato da sua vida deve ter sido a mais honesta das auto-biografias. Pena que o Machado de Assis levou todo o crédito. Quando, no seu caso, a perspectiva do game over está certa, perde-se os motivos para enganar, pois, se assim agimos durante a vida, é por medo de que a verdade nos danifique. Ora, se o maior dos danos é a morte, a que deve o morto temer se fala sinceramente?


* * *

Sobre a lógica
"A lógica, assim como a realidade, é duvidosa. Você, um primata que se orgulha de usar 10% do seu cérebro, acredita piamente que a razão é a medida de todas as coisas, que o certo e o errado, o real e a ilusão, são facilmente distinguidos com um pouco de raciocínio.

"Ora, se para provar a existência de algo é necessário usar a lógica, o que dizer da própria lógica? Para demonstrarmos que ela existe, teremos que nos apoiar nela mesma, o que nos levará a um raciocínio circular. Por mais redundante que pareça, 'a lógica só pode ser provada se ela existir'.

"O mais interessante é que qualquer falha em um universo ilógico seria admissível, pois as falhas só não são permitidas na presença da lógica. Assim, se você disser: "A lógica precisa existir, pois, se assim não fosse, tal coisa não estaria funcionaria da maneira que funciona", eu posso simplesmente replicar 'Sim, se a lógica não existir, realmente tal coisa não faria sentido. Entretanto, um universo ilógico não precisa que as coisas façam sentido'. E você quebraria a cara, de tão lógico que é meu argumento.

"E isso também foi surpreendente - a própria lógica me forneceu as ferramentas necessárias para mostrar que sua existência não é passível de prova. Ora, agir de tal maneira é totalmente ilógico, pois ninguém quer que sua condição de 'ser' seja duvidosa. Assim vemos que a lógica age de maneira ilógica, o que me convenceu de que ela realmente não existe. [Não levem este parágrafo a sério. É o urubu falando, não eu]


* * *

O anjo e o demônio
Não, o náufrago não morrera. Mas o leitor já está quase lá, então vamos matá-lo logo e terminar essa história.

Dizem que, momentos antes da morte, vemos toda a nossa vida passar diante de nossos olhos. Mas o nosso protagonista não se importava muito com clichês americanos, e por isso se reservou a dar uma espiada em sua infância. Lá estava a bicicleta vermelha, o balanço, os campos de flores... seriam violetas ou tulipas? Ele nunca soube a diferença. Também não sabia porque gastar seus últimos segundos com uma questão tão ridícula. Erguendo seus olhos aos céus, estava ouvindo "Also sprach Zarathustra" (aquela do "2001 - Uma Odisseia no espaço"). "Talvez morrer não seja assim tão ruim...", pensou, e, no ápice da música, o céu se abriu e uma escadaria desceu até a terra.

A terra também estremeceu, fendeu-se e revelou uma escada que levava até suas profundezas. De cada uma das escadarias chegou um ser, que, por agora, vocês já devem ter adivinhado quem são.

- Nefasto, puxa a ficha desse infeliz - falou o anjo.
- É pra já. Beleza Tição? - perguntou o diabinho.

O urubu cumprimentou-os com um gesto, como se fossem velhos conhecidos.

- Eu estou morto? - perguntou o homem.
- Hu... não tecnicamente. Nós estamos te olhando há umas duas horas pra completar o serviço e acabamos perdendo a paciência. Você se importa se nós formos adiantando as coisas? - respondeu o anjo, enquanto o demônio virava folhas freneticamente em uma pasta.
- Não, não. Vai em frente.
- Celeste, acho que temos um probleminha... não estou encontrando os papéis do réu.
- Cara...mba; e agora? Nossos superiores não vão gostar de saber disso.
- Vocês podem propor um teste pra ele. Se ele conseguir realizá-lo, vai pro andar de cima. Se não... - sugeriu a ave.
- Boa ideia. Que tal uma charada? - propôs o anjo.
- Hu... acho que a esfinge se sentiria plagiada. - respondeu o capeta.
- Um jogo de xadrez? - tentou o urubu.
- O Ingmar Bergman já gastou essa - suspirou o encardido.

E discutiram por um tempo realmente desconcertante.

- Bem... tem outra saída - concluiu o urubu, atraindo a atenção de todos.
- E qual seria? - perguntou outro, não me lembro qual.
- Se ele não morrer... não precisam decidir para onde ele vai.

Os dois seres antagônicos se entreolharam.

- Você vai prestar queixa?
- Não. Você?
- Prestar queixa do que? Não sei do que está falando. E você  aí, cara morrendo. A partir de hoje, você é imortal. Vê se não cria caso.


* * *

O fim
Na linha bruxuleante do horizonte, que aos poucos engolia o sol, uma figura se aproximava da cidade. Sua aparência cadavérica combinava com seu odor de morto. O náufrago, apesar de tudo, vivia.
Chegando finalmente em sua rua, todos os conhecidos se afastaram. As crianças deixaram de jogar bola, as velhas foram continuar o tricô dentro de casa. Até mesmo os bêbados e mendigos, e os mendigos bêbados, fugiram com repulsa.
Mas, sorrindo, ele declara:

- Tanto faz. Vocês não existem mesmo!

domingo, 2 de janeiro de 2011

A Beleza da Política

Depois desse jejum de um mês, o blog voltou à ativa. Aliás, jejum, só se for para os leitores, porque nessa "pausa para o recreio" eu devo ter engordado alguns quilinhos com a merenda. E que merenda! Açaí, jambu, tucupi, cupuaçu, pirarucu... nada melhor do que passar uns dias com a vó (esse meu netinho está muito magro... será que minha filha não sabe alimentar os pobrezinhos?).

Mas agora tratemos de assuntos menos nefelibatas (adoro essa palavra). Como hoje é o primeiro dia do governo da Mônica, digo, Dilma (dentuça, adora vermelho e tem um amigo que fala errado), as vozes na minha cabeça me mandaram escrever sobre política (vocês deviam ver quando elas me mandam ouvir Queen. O dia inteiro repetindo "Love of my life").

As eleições não só revelam canditados palhaços. Revelam o palhaço em cada um dos eleitores. Ouvimos não apenas analfabetismos políticos, como também lógicos.

Um exemplo: Estamos no 1° turno. Dilma já na frente, seguida por Serra e, "logo" depois, Marina. Para o jornal do 2º EM, o departamento de opinião, no qual eu estava incluso, fez uma pesquisa de intenção de voto com os estudantes. Era comum ouvir dos entrevistados que desejariam votar na Marina, mas que votariam no Serra para "fazer frente à Dilma". Ouvi professores dizendo isso. Credo.

"Vinde e arrazoemos". Marina tinha 15% dos votos válidos e Serra, 30%. Dilma, na torre de marfim petista, mantia-se acima dos 50%, segundo as pesquisas da Datafolha. Se todos os eleitores da Marina miraculosamente desistissem e votassem no Serra, mesmo assim Dilma ainda ganharia no primeiro turno. As porcentagens do candidato tucano e da candidata verde juntas não superavam a da petista. A ideia de deixar de votar na Marina para "fazer frente à Dilma" não funciona, pois não é o Serra que tem que subir, e sim a Dilma que tem que descer. A transferência de votos não pode ser Marina - Serra e sim Dilma - Serra.

Votando na Marina ou no Serra, Dilma com certeza ganharia no 1º ou no 2º turno. Não adianta abandonar a acreana para votar no Serra. Infelizmente, esse conceito furado de "fazer frente à Dilma" estava na boca todos. Se todos votassem em quem pensam ser mais adequado para dirigir a nação, e não em quem tem mais chance de ganhar "pra não perder o voto", Marina teria ganhado na minha escola. Ou empatado com o Serra, que ganhou em Santa Teresa com quase 70% votos (esqueci a porcentagem exata, mas finjam que é essa aí).

Mas fugi da escola antes de ver a primeira edição do jornal pronta. Então vamos desviar do assunto permanentemente.

O brasileiro tinha à sua frente duas opções (três, para quem gosta das causas perdidas) para escolher quem seria a próxima pessoa a estragar o futuro da nação. Era uma grande responsabilidade, mas eu acho que escolheram a mais capacitada.
Não me chamem de alienado, ignorante, ou seja lá o que for, por minha postura cética. Não sou antipolítico. Sou apolítico. Acredito tanto em plataformas quanto em Papai Noel, OVNI’s, saci ou a fada do dente. Tanto que, se fosse do meu jeito, a política teria um rumo todo diferente.
Para começar, por que temos candidatos tão feios? Basta olhar para os dois da vez: Serra e Dilma. Mesmo com o trato artificial que todo político ganha antes das eleições, não há como olhar para os dois e não questionar se vieram de um romance do Stephen King ou um filme do Alfred Hitchcock. Dá medo.
A solução é fácil. Ao invés de eleições presidenciais, teremos concursos de Miss Brasil, e a vencedora fica com o Palácio do Planalto por quatro anos. Não é perfeito?
Em encontros internacionais, nós, brasileiros, teremos o prazer de ter a representante mais badalada dessa grande festinha chamada mundo. Descolaremos uns tratados econômicos na maior moleza, sem ter que recorrer a reuniões chatas que ninguém assiste na TV Senado.
Claro que eleger uma modelo teria alguns efeitos colaterais um pouco... incômodos. A moratória da dívida externa, a falência do país, declarações de guerra, inflação orbital, etc. Mas quem é que se importa com isso, se nós temos uma Sara Carbonero brasileira na presidência da República?

E, como as vozes na minha cabeça reclamaram que eu não ponho imagens nos meus posts, aqui vai uma tudo a ver para concluir:
 
Maria Gloulart, "A primeira dama mais bela da história brasileira"
 

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Sala de Espera

O moço entrou no consultório. Pegou uma senha, com um número assustadoramente grande para uma sala tão vazia. Sentado ali em uma fileira de sete bancos, três dos quais estavam vagos, estava um velhinho, cochilando e babando sobre o ombro de uma moça que o acompanhava à sua direita.
Logo depois, estava um alguém que, a não ser pelas muletas, assemelhava-se perfeitamente a uma múmia. O gesso só lhe deixava um pequeno espaço para os olhos, nariz e boca. Ao seu lado, um jovem emo mascava freneticamente um chiclete.
O ventilador de teto de pás de madeira girava lentamente, como vencido pelo cansaço de anos a exercer a mesma função. Abaixo dele, no meio do recinto, uma mesinha de vidro sustentava pequenas pilhas de revistas de cinco anos atrás.
Ainda com a senha na mão, dirige-se para a secretária:
- Olá. Quanto é a consulta?
Nesse momento, um homem encapuzado entra e dispara no teto.
- Isso é um assalto! Quem é o dono dessa joça?
- Se o senhor quer ver o doutor, pois que pegue um número e espere a vez como todos os outros! – respondeu a secretária, autoritariamente.
O assaltante, envergonhado, obedece à ordem e arranja espaço ao lado do velho, recebendo de todos olhares de reprovação pela sua falta de educação.
- E a consulta, quanto é? – continuaram aqueles dois de antes.
- Trezentos reais a hora.
- O quê? Isso é um roubo!
- Ei, ei! – o meliante levantou-se alterado – eu já estou na fila! Você que o roube depois!
Uma porta então se abriu, revelando um homem de jaleco branco, acompanhado por uma idosa baixinha.
- Pela oitava vez, dona Frida, este é um consultório odontológico, não de otorrino. A senhora pode consertar seu aparelho auditivo do outro lado da rua... – diz o médico.
- Muito obrigada, doutora. Gostei muito dos seus chifres verdes.
- ... e pode consultar o oftalmologista, a duas quadras daqui.
O marginal levanta-se:
- Cansei de esperar. Pode ir passando a grana, doutô.
- Mas, e quanto a nós? – pergunta a múmia – Não vai nos roubar? O que ele tem, que não temos?
- É... realmente. Façamos o seguinte: eu roubo ele, mais três de vocês, seqüestro um e uso o outro como escudo humano.
- Parece justo. – diz o médico – Mas posso ser liberado antes das seis? Minha mulher fez almôndegas para o jantar.
- Oh sim, sim. Meus serviços são os mais rápidos da cidade. A propósito: ela usa manjericão ou páprica como tempero?
- Ao sugo, apenas.
- Nossa... mas com o preço do tomate nas alturas, deve ser um pouco difícil pra vocês, né? Eu posso voltar outro dia, se quiser.
- Seria mais apropriado. Dia 25?
- É feriado.
- Ah! Na semana seguinte, então.
- Está combinado.
E assim, todos voltaram para casa felizes porque o cronista está de bom humor hoje. Exceto a velha, que entrara em uma loja de ferragens pensando ser um banheiro público, e o médico, que já estava enjoado de almôndegas ao sugo.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Sobre o sexo e os sexos

Eu gostaria de começar esse post rindo. Infelizmente, já o comecei dizendo que gostaria de o começar rindo, ao invés de simplesmente começá-lo rindo.

Mas ainda tem espaço aqui no segundo parágrafo! Hehehehehe! <- essa foi a minha risada.

E agora, no terceiro parágrafo, eu vou explicar porque ri.

Infelizmente, o terceiro parágrafo acabou e eu não pude explicar. Mas, como você pode ver, o quarto parágrafo é bem grandinho, então acho que aqui dá pra discorrer melhor sobre o assunto. Acontece que vocês, ao ler o título do meu post, já se interessaram nas besteiras que um adolescente escreveria sobre o assunto e, é claro, pelo assunto em si. Bem, desculpe desapontá-los, mas aqui o assunto não vai para onde geralmente vai. Não só porque não faz meu tipo, como também porque minha mãe, minha tia e minha vó acompanham o Blog, então preciso bancar o menino comportado (oi mãe!, oi tia!, oi vó!).

Antes de continuar, gostaria de lembrá-los que, quando um texto está muito obviamente errado, é preciso cogitar se quem o escreveu não estava sendo irônico. Não tenho preconceitos contra os nordestinos, os professores de portuga ou os flamenguistas. Pelo contrário, amo todo esse pessoal no Nordeste, os acadêmicos de Letras e os favelados.

Voltando ao assunto... sobre o que iríamos falar hoje? Oh sim, aquele tema proibido. Let's go. Primeiramente, gostaria de dizer um senso comum, para que assim você comece concordando comigo. Homens e mulheres não pertencem a mesma espécie. Não pertencem ao mesmo filo, ao mesmo planeta, ao mesmo universo, à mesma sopa divina. E, ao mesmo tempo, não são opostos, pois, se fossem, pelo menos essa característica teriam em comum: a de serem antípodas.

Mas aqui não há espaço para reciprocidade de qualidades. Homens e mulheres são distintos. Ponto.

Tudo começa com um abismo biológico entre os dois sexos. As cabeças funcionam diferentes, assim como as gônodas. Assim, a moral, o comportamento, as emoções, tudo muda. E alguns milênios de alienação por parte da sociedade ajudam no processo: meninas aprendem a gostar de rosa e bonecas, enquanto meninos aprendem a gostar de azul e bolas.

Olá, bem vindos ao meio do texto. Esse é o momento para você relaxar a mente de tantas abobrinhas e se preparar para outras.

Beleza, esse assunto já enjoou por today. Segundamente (e sim, eu sei que esse advérbio não existe, leia o quinto parágrafo antes de julgar meu português), vamos falar sobre filmes de cowboy e, depois, sobre o feminismo. Mas, como as feministas acabaram de queimar os filmes de cowboy sobre os quais eu queria discutir, vamos conversar apenas sobre o feminismo.

Como diria aquele velho provérbio persa, "o homem que lhe vender tâmaras, esse não terá doenças venéreas". Não sei muito bem como isso se aplica ao assunto, mas achei chique começar com algum provérbio persa.

O feminismo está errado porque reivindica um espaço cada vez maior da mulher na sociedade, sendo que, na verdade, ela sempre exerceu o papel dominante. Isso mermo.

Por quem os gregos construíram um cavalo, invadiram Tróia e cometeram aquele genocídio tão homenageado hoje em dia? Por Helena, véi! Se fosse um macho sarado em perigo, nem mesmo um pônei eles teriam construído.

E o Taj Mahal? O indiano lá fez pra quem? Pra uma mulher, ou melhor, pra uma mulher morta! Quer mimo maior que esse?

Agora, digam-me algo famoso que uma mulher já tenha feito por um homem. E nem venham com essa história de que Julieta se suicidou por Romeu, pois ela só fez isso depois de ele ter feito o mesmo (pela Julieta, não por ele. Ele era doido, não narcisista). Além de nada espontânea, ainda lhe faltava originalidade.

Por quem Davi arrecadou 100 prepúcios de filisteus? E Micol era o que?

Puts! O HOMEM DEU ATÉ A COSTELA PELA MULHER! Imagino o diálogo:

- Ei Adão, você quer anestesia local? - perguntou Deus.
- Por que? A estrangeira acabou? - (HAHA!, essa é velha).
- Quero tirar sua costela para fazer uma parceira pra você.
- E isso vai doer?
- Não a curto prazo, mas nos próximos 6 mil anos...
- Como assim?
- Hum... ela vai te fazer chegar atrasado na estreia do Tropa de Elite 2 porque não conseguirá escolher o vestido a tempo. Vai reclamar que você não abaixa a tampa da privada. Quando ela te der um tapa, será falta de educação revidar. Vai te acordar reclamando que você ronca, mesmo que ela ronque. Uma vez por mês vai estar mal-humorada. Mesmo assim, você será doidinho por ela, mesmo que ela te ignore. E aí?
- Ah, sei lá. Já dei nome para todos os animais mesmo. Manda aí.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

2012 e as Pimentas

Jerônimo era um profeta falido. Nunca fora um mal profissional, mas o mercado de previsões andava em baixa. Com as novas tecnologias, ninguém mais dava atenção às profecias do velho.

Já tentara alguns bicos como homem do tempo em certos jornais, mas diziam que seu visual cômico e suas previsões metafóricas reduziam o Ibope.

Foi quando, em uma clara e banal manhã de segunda, ao ir ao supermercado comprar um alvejante para retirar uma mancha de ketchup de seu manto branco, percebeu-se no corredor errado e viu-se em frente a uma prateleira de molhos de pimenta. De repente, como um raio, veio à sua mente uma revelação tão assustadoramente estupenda, tão magnífica e reluzente, quue arregaçou a boca em um largo sorriso. Ficou ali parado, acariciando aquela ideia, como quem protege a uma mina de outro. Ali estava a sua fama, sua riqueza, seu poder.

Convocou uma audiência com a imprensa, na qual divulgou ao mundo sua descoberta. Muitos não acreditaram, mas, como o ser humano possui uma necessidade patológica de crer que sua geração é a mais importante, o velho formou inúmeros prosélitos com sua teoria:

- O mundo vai acabar em uma semana! - Disse.
- Em que o senhor baseia sua profecia? - perguntou um repórter.
- Molhos de pimenta.
- Como?
- Molhos de pimenta. Nenhum molho possui validade maior do os próximos sete dias. Vá aos supermercados e confira.

Mesmo com sua explicação fajuta, conseguiu alguns discípulos notórios, como o presidente de uma multinacional de fast food mexicano. Deu palestras, distribuiu folhetos, anunciou o fim do mundo em praças públicas e apareceu no Programa do Jô e no David Letterman. encontrou uma ferrenha oposição, mas continuava sua missão, sem pestanejar.

No dia previsto para o fim do mundo, reuniu toda a população mundial em um terreno baldio ao lado da sua casa. Ninguém estava ali por um motivo ideológico, religioso ou escatológico, mas sim pela comida mexicana grátis. Como se sabe, até injeção é menos dolorosa se for de graça.

O dia passou normalmente. Todos comiam fervorosamente, menos Jerônimo, o qual dizia fazer mal a saúde ser aniquilado de barriga cheia. Fazia jejum.

Quando os relógios marcaram onze horas da noite, seu séquito começou a ficar impaciente.

- Que horas será, mestre?
- Não pensemos mais em horas, mas em minutos. Talvez até em segundos.

Faltando quinze minutos para a meia noite, um deles levantou-se, irritado, e, com o dedo em riste, vociferou:

- Charlatão! Você nos enganou! O mundo não vai...

Mas ninguém ficou sabendo o que o mundo não ia fazer, pois o acusador do profeta caiu duro no chão e uma gotinha de sangue escorreu de sua boca, e, como todos nós que assistimos filmes americanos sabemos, quando sai uma gota de sangue pela boca, o cara está morto. Muerto. Dead.

Um médico, que obviamente não assitia filmes americanos, correu em seu auxílio. Checou os pulsos, respiração e essas outras coisas que médicos gostam de checar. Não chegando a uma conclusão (formou-se na Ufes, onde entrou por cotas), cheirou seu hálito.

- Este homem ingeriu comida mexicana?
- Sim, ele comeu. Você comeu. Nós comemos, a humanidade inteira comeu - respondeu outro.
- Hum... pois parece que o molho de pimenta estava estragado...

E, dizendo isso, caiu duro no chão, assim como metade da humanidade. A outra metade, dando conta de que se atrasara, também empacotou logo depois. E o velho, rindo-se:

- Eu bem que avisei, eu bem que avisei...